segunda-feira, 6 de junho de 2022

Crise da meia idade, maturidade, morte e afins...

Não é uma análise do blog sobre si mesmo. Ou talvez seja exatamente isso, junto com uma análise do que tenho vivido nos últimos 12 anos, desde a última postagem aqui...

De 2010 a este ponto (junho de 2022) já se foram tantos ventos e eventos. Sim, este blog tem sua própria retrospectiva. Seguem os principais fatos no período, ao arbítrio do Variando o Repertório: primeiro os distúrbios coletivos protestos de 2013 (onde "as pessoas foram às ruas", inicialmente, para protestar por causa de 20 centavos, em plena ascensão das condições gerais de vida no país, e acabaram trazendo na esteira movimentos oportunistas com pautas conservadoras e antidemocráticas); veio a Copa de  2014, com seus 7 a 1, que parecem ter feito tanta gente avaliar/recordar/considerar relevante unicamente os 7 a 1; deu-se a formação de um grupo de agentes públicos com o propósito de interferir no destino político do Brasil combater a corrupção, o qual ganhou notoriedade e teve suas atividades noticiadas diariamente, com grande destaque em horário nobre; presidente eleita foi deposta a pretexto de "pedalada fiscal"; a reforma trabalhista foi aprovada; imprensa majoritária divulgava o processo como que um mantra, apto a estabelecer a aceitação de que "retirar direitos aumentaria a oferta de emprego"; aprovou-se uma emenda à Constituição para o país diminuir seus investimentos (na educação, saúde, assistência, enfim, em tudo em que precisa investir) e, assim, sobrar mais dinheiro para custeio da agiotagem formalmente denominada "despesas com a dívida pública"; um político do "Centrão", com 3 décadas de mandatos eletivos e 3 filhos, estes igualmente ocupantes de cargos políticos, foi eleito presidente do Brasil como outsider na política; a eleição se deu com uma plataforma moralista, desacompanhada de projetos, de debate de ideias (graças a uma suposta facada), e num mar de "notícias" não comprovadas, maciçamente espalhadas nas redes sociais; a previdência pública foi reformada, condenando quem não tem nada a trabalhar mais para ter menos e abrindo espaços (mais espaços) para os bancos venderem pacotes de previdência privada a uma classe média cada vez mais pobre e desesperada; gasolina subiu de preço; desemprego cresceu; chegou ao mundo uma pandemia devastadora que, no Brasil, não foi devidamente combatida, levando a óbito (em data de hoje) 667 mil brasileiros; um turbilhão de pessoas de quem se esperava certa "inteligência" (em livre conceituação: capacidade para proceder de modo eficaz diante de problemas variados do cotidiano) seguiu bovinamente orientações contrárias aos parâmetros aceitos e divulgados mundialmente, por especialistas, para evitar contágios e tratar a doença; vacinar-se virou opção política e não uma questão de esquiva de doença/morte; aquele grupo de agentes públicos foi desmascarado por teve problemas com hackers; gasolina subiu de preço; fomos campeões mundiais de desvalorização da moeda; ganhamos medalha de bronze na disputa de menor PIB do planeta; voltamos ao mapa da fome; classe média empobreceu ainda mais; o "novo empreendedorismo" ficou marcado pela escravidão pelo trabalho sem a cobertura das proteções trabalhistas (as que sobraram), em plataformas online para entrega de mercadorias; gasolina subiu de preço; cesta básica superou o salário mínimo em algumas cidades; e...gasolina subiu de preço...



Acompanhei parte disso com a boca escancarada, cheia de dentes, mas - sejamos justos! - não exatamente esperando a morte chegar... Em certo sentido, reagi. Juntei-me a muito(a)s para protestar nas ruas (e nas redes) contra as reformas trabalhista e da previdência, debati, bati (não, não bati... Mas tive vontade), estudei, expliquei, votei, cansei, voltei, tantas e tantas vezes... 

E, nesses anos e seus diversos contextos, aquilo que tenho por "eu" se agitou, revirou, escarafunchou, desarranjou e se rearranjou tanto e tantas vezes, que (quase) não mais me reconheci quando tentava me lembrar do criador deste ambiente.

E, já que chegamos neste ponto...

Sinto que há uma diferença grande entre a passagem do tempo que ocorre dos 25 aos 35 anos e aquela que se dá a partir dos 40 e muitos! 

Isso não precisa ser (e, obviamente, não é) uma regra universal, nem quero especular nesse sentido. Penso que, para além dos determinantes biológicos, existam diversos aspectos culturais que devem levar à percepção das coisas dessa maneira, aos quais se somam as experiências individuais que... São individuais.

A minha experiência do envelhecimento tem sido particularmente reveladora. Na verdade, falo de como minhas interações com o mundo me modificaram nos anos, mas às vezes é maçante, chato pouco empolgante falar assim... Então falemos de revelações!😁

Tentei extrair para o texto algumas máximas pessoais, sem a pretensão de tê-las por qualquer coisa além de máximas pessoais. Digamos apenas que são coisas que ME foram reveladas de uns anos para cá:

1) você não necessariamente "melhora" - não se torna uma pessoa mais produtiva, mais feliz, que causa menos sofrimento às outras - quando envelhece... Algumas pessoas treinam com muito afinco habilidades que dificultam as vidas de outras! Esse treino produz resultados! É justo que cada um melhore na sua área de treino, não?!

2) boa parte daquilo que você um dia pensou que iria conquistar "naturalmente", não vem "naturalmente". Ou não vem de jeito nenhum! Algumas vezes, a passagem do tempo é apenas... A passagem do tempo.

3) você não vai mais conseguir fazer muito daquilo que um dia sonhou! "Sonhar" é importante e ameniza tantas dores. Mas chega uma hora que você percebe que tem que se tornar mais prático, porque seu rol de possibilidades foi drasticamente reduzido com a idade. Se tudo ocorrer "normalmente", por volta dos seus 45 anos (com a tecnologia disponível hoje), você vai viver mais ou menos o tempo que já viveu e depois vai morrer! Há um tempo correndo contra você e que exige respostas sem muita liberdade para criatividade em diversos setores da sua existência...

4) o item anterior costuma ser fonte de muita tristeza, por mais que pudesse ser previsto 10 anos antes... Alguns chamam a essa tristeza (e o pacote que a acompanha) de crise da meia idade... Outros não a chamam de nada.

5) a morte está por todos os lados. Ela sempre esteve, mas passa a ser uma possibilidade mais concreta, especialmente depois de uma pandemia de Covid-19. Você se vê sem algumas pessoas queridas, ou na iminência de perdê-las... Forçado a estar em casa para cuidar da própria vida e daqueles que ama... E, então, a brevidade da existência sai detrás daquela cortina, onde você podia ver sua silhueta: estou aqui! - ela diz. Em seguida, você se esquece da morte e vai tocando em frente, porque, como dito antes, você tem que ser prático!

6) Algumas coisas passam a ter muito mais importância. Outras, muito menos... Pensei em
exemplos, mas seriam muito pessoais, até para os propósitos de um texto como esse. 


Ok, ainda não me foram reveladas tantas coisas, então vou parar em 6!

Opa! Vou incluir mais uma. Essa "dádiva do tempo" tem um lugar muito especial em minha vida:

7) Você se mede menos pelas réguas imaginárias que os outros seguram! Aperta o botãozinho do f***-se. com mais frequência (talvez com mais elegância, também)... O importante é que, em condições "normais" de temperatura e pressão, chega uma fase de você em que você pode se livrar de boa parte do controle aversivo que existe ao seu redor! Isso é tão especial que desejaria que fosse uma regra universal (um delírio kantiano)! De algum modo, o texto é todo sobre isso!

É isso! Acabei de descobrir qual a razão de retomar o blog: vamos ver o que as variações da vida e os botõezinhos que surgem têm para nos trazer...

Enorme abraço!


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